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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Imagem de Nossa Senhora é rara

PRECIOSIDADES Na Catedral, as imagens de Santana e Nossa Senhora, mãe e filha, estão lado a lado






MARA FLÔRES


Poucos sabem, mas a Igreja Matriz de Mogi das Cruzes guarda, no seu altar-mór, uma das mais antigas e importantes imagens de Nossa Senhora existentes na Região. À esquerda de Santana, a mãe de Jesus está retratada na peça em terracota e madeira mais rara e histórica do acervo sacro do Alto Tietê atualmente exposto num santuário. Hoje, quem for às celebrações em louvor à Nossa Senhora Aparecida e desviar o olhar para o alto da nave central poderá apreciar um dos mais preciosos bens que chegou ao século XXI preservado. Antigo mesmo, pois especialistas acreditam que o conjunto date do longínquo século XVIII, e que tenha chegado à Cidade vindo de Portugal.

Raríssimas são as imagens originais ainda em poder da Igreja Católica na Região. A maioria foi vítima de roubos e furtos, geralmente a mando de colecionadores, inclusive do Exterior. As que restaram, com raríssimas exceções, estão seguramente guardadas no Museu de Arte Sacra instalado na Igreja do Carmo. Expostas ainda hoje em igrejas e capelas nos 10 municípios que formam a Diocese de Mogi das Cruzes são pouquíssimas e, dentre elas, está Santana e Nossa Senhora, mãe e filha, uma ao lado da outra.

De valor histórico e cultural inquestionável e, conseqüentemente, também monetário, a imagem de Santana e Nossa Senhora resistiu à ação dos "ladrões de arte sacra", ao que tudo indica, por conta da sua estrutura e da sua localização. No primeiro caso, a grandiosidade da peça (cerca de 1,3 metro da base até o final do trono, largura de 60 centímetros e um peso considerável) exigiria, no mínimo, o trabalho de três a quatro pessoas, com auxílio de escadas, para que fosse retirada do alto dos três metros onde se encontra. Fatalmente, isso demandaria tempo e chamaria a atenção, o que explica a segunda justificativa. Afinal, como seria possível fazer toda essa movimentação na Igreja Matriz, em plena região central da Cidade e onde o movimento de pessoas é permanente?

"Creio que só por esses motivos a imagem existe até hoje na Catedral. Ainda assim, furtaram o resplendor de Santana e a coroa de Nossa Senhora, que eram as peças menores, possíveis de serem levadas sem chamar a atenção", ressalta João Torquato, professor de piano que tocou nas igrejas da Cidade por 52 anos e, consequentemente, se tornou um grande admirador da história das obras de arte sacra.

Segundo ele, a imagem de Santana e Nossa Senhora sempre permaneceu no alto da nave central da Catedral, o que dificulta o seu acesso até para fins de limpeza. O que, por incrível que pareça, também contribui para a sua excelente preservação até os dias atuais. "Quanto menos limpar, mais preservada ela será porque o ato de passar pano úmido acaba arrancando a tintura. E como está muito no alto, a limpeza da peça é feita com um intervalo considerável de tempo", justifica Torquato.

A fixação da obra de arte no alto da nave ajuda a explicar o feliz destino que a imagem tem se comparada a outras raridades que desapareceram das igrejas e capelas mogianas nas últimas décadas, como Santo Ângelo, São Sebastião e até a pomba do Divino Espírito Santo. Ainda assim, os ladrões não perdoaram o resplendor (leque com raios) que adornava a cabeça de Santana e a coroa (quatro lados com a cruz no centro) de Nossa Senhora, respectivamente, avó e mãe de Jesus. As peças, confeccionadas em prata de lei, foram roubadas na década de 70 e substituídas por réplicas num metal bem menos nobre.

De estilo colonial, acredita-se que a imagem de Santana e Nossa Senhora tenha vindo diretamente de Portugal, já que as peças confeccionadas no Brasil até então não tinham o mesmo refinamento das que eram produzidas na Europa. Embora tudo indique que ela seja anterior a 1900, não há pesquisas históricas que comprovem que ela seja a primeira peça que marcou o início da Igreja de Santana em Mogi das Cruzes e o próprio surgimento da Cidade, que chamou-se inicialmente Vila de Sant’Anna de Mogi Mirim numa homenagem à santa do dia em que os tropeiros chegaram no povoado e que, mais tarde, tornou-se a padroeira do Município.

"Mas se não foi a pioneira, foi com certeza uma das primeiras e está intacta", destaca Torquato.

Desde a primeira capela que deu origem à Vila de Sant’Anna de Mogi Mirim, o templo de Santana sempre esteve no mesmo lugar, mas passou por várias mudanças ao longo dos quatro séculos que se sucederam, inclusive com a sua completa demolição e a construção da atual Catedral, cuja fundação completará 50 anos em 2012.

Por sua vez, a imagem de Santana resistiu a praticamente todas essas mudanças, com um único trabalho de restauração realizado em 1935, em São Paulo. O serviço conservou as características originais da peça, com pequenas mudanças. A principal com certeza foi a que resultou em colocar Nossa Senhora no mesmo pedestal de Santana, transformando as peças separadas numa única imagem.

"Há quem diga, também, que as imagens originais de Santana e Nossa Senhora ostentavam brincos, o que era uma característica comum das peças de Portugal e Espanha. Na restauração, isso foi abolido. A outra mudança foi no trono, que teve o encosto levantado e enriquecido por anjos", conta Torquato.

"Essa imagem é de um valor artístico, histórico e cultural inestimável. É uma raridade do período colonial. Uma peça lindíssima que é uma das poucas expostas numa igreja da nossa Região", comenta Roberto Lemes Cardoso, aposentado, apreciador de arte sacra e festeiro de Santana em 2009 e 2010.

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